Peça: "Los pájaros se van con la muerte"
Autor: Edílio Peña
Elenco: Bárbara Danielli y Vera Ferreira
"Uma história dramática da realidade viva latino-americana, onde uma mãe se agarra à memória do marido morto, invocando o seu espírito através de sua filha, em busca de vingança e de manter sua memória viva.
Os pássaros se vão com a morte,
Indaga sobre a opressão,
sobre a liberdade negada ...
... Essa imagem transitória
que desaparece num golpe,
num olhar
num grito
num suspiro ...
Essa liberdade que se perde com o silêncio ...
... Com o abrir e fechar dos olhos ...
... Essa liberdade que vai voando ...
... Como os pássaros."
Os pássaros se vão com a morte,
Indaga sobre a opressão,
sobre a liberdade negada ...
... Essa imagem transitória
que desaparece num golpe,
num olhar
num grito
num suspiro ...
Essa liberdade que se perde com o silêncio ...
... Com o abrir e fechar dos olhos ...
... Essa liberdade que vai voando ...
... Como os pássaros."
De cartazes |
ANÁLISE DA OBRA:
"Los pájaros..." é um drama escrito em dois atos que se caracteriza por uma tendência que examina alguns aspectos da realidade venezuelana (a marginalidade, a prostituição, a solidão, o abandono, etc.), que em sua maioria foram acrescentados pela instalação da nova estrutura política e social que começa a mudar com o fim da ditadura de Marcos Pérez Jiménez (presidente de 1952-1958). Outro aspecto importante na obra constitui-se pela integração do elemento mágico, misterioso, da cultura como é o caso do culto à rainha Maria Lionza, uma deidade tipicamente venezuelana, como uma "espécie" de orixá daquele país (apenas para que se tenha um comparativo). Esta fusão do real maravilhoso (que, além do mais, se inscreve na tradição da produção artística latino-americana) ressalta alguns recursos particulares da nossa cultura popular, mas projeta por sua vez uma problemática que transcende a época, e lhe dá um carácter universal.
A obra se estrutura a partir de um discurso dialógico estabelecido por dois interlocutores dramáticos unidos por uma relação sanguínea: Mãe e filha. Esta última, em algumas cenas, se desdobra para representar o personagem referencial, o Pai, que de alguma maneira inspira as ações de toda a obra. O desdobramento do personagem, poeticamente descrito, permite lograr vários dos desejos frustrados da Mãe: o prazer sexual e a vingança de ver-se viúva do seu esposo, pois que ela não o perdoa por tê-la "deixado". O primeiro não é mais que o triunfo da piedade que a mãe, no seu papel de esposa, reclama do seu marido, e o segundo representa a consolidação de um temor antecipado. O temor de conhecer a morte do seu companheiro.
A diegésis da obra explicitamente assinala que os desejos dos personagens são logrados a partir de uma cerimônia popular clandestina, mediatizada através da colocação de vários objetos como a imagem de Maria Lionza, das velas, uma fita vermelha e outros elementos fundamentais para a celebração do rito. A alusão a estes aspectos tradicionais não são descritos com pretenções de reinvindicação nem de mitificação por parte do autor, senão como pretexto que serve de catarse à mãe para expurgar suas paixões. Esse sentimento de terror, temor e piedade que a mãe transmite ao receptor durante a celebração do rito faz dela um personagem trágico.
Parte da história se realiza a partir dos sonhos e memórias dos personagens. A obra se inicia justamente com um conho da Filha: "A noite sonhei que um aguaceiro derrubou o barraco e nos surpreendeu nus, a papai e a mim... Estou molhada"; a mãe lhe responde: "Aos vinte anos me passou o mesmo. Toca-me, ainda estou dormente (toma-lhe as mãos e as leva ao sexo)". Os diálogos dos personagens não só servem para identificar a classe social o qual pertencem, um ambiente hostil e marginal capaz de produzir sonhos pouco acalentadores para elas, mas que além do mais serão desenvolvidas em cenas posteriores. O leit-motiv está marcado pelas angústias, sofrimentos, solidão, abandono e frustração social e econômica dos personagens. Sobre isso, Peña em sua obra teórica sustenta que "O autor teatral cria um personagem que é a imagem de sua realidade. Posteriormente, o personagem se reveste de uma consciência própria quando o conjunto o define. Ele é consciência de outras consciências." Parafraseando o autor de "Los pájaros...", poderíamos dizer que o personagem Mãe não é mais que a representação simbólica de uma consciência coletiva, que manifesta, a partir do discurso dramático, a nostalgia do seu amante, a aspiração a uma vida mais cômoda. Sem sombra de dúvidas, através dela, Peña logrou construir uma mostra, uma pequena parcela da realidade venezuelana, aquela que serviu de fonte inspiradora para "Los pájaros se van con la muerte", drama de transcendência e projeção universal.
CONCEPÇÃO DA NOVA MONTAGEM:
"Los pájaros se van con la muerte" é uma obra com uma metáfora poderosa sobre a solidão, a sexualidade reprimida e o misticismo não apenas como forma de explicar o desconhecido mas também como manifestação da manipulação e do poder.
Esses são os pilares desse drama que carrega a essência venezuelana, mas que se assemelha em grande parte à realidade de outros países da América Latina. Trás o sincretismo, os impactos sociais e por conseguinte emocionais das catastróticas realidades econômicas da região. Assim como fala da prisão, da angústia, do sofrimento, da tortura e da traição.
A linguagem onírica, que por vezes guia a narrativa dessa peça, fundamenta em parte a escolha estética para realização dessa peça. Buscaremos no surrealismo as características a serem ressaltadas nesse texto. Vamos acentuar as seguintes características desse movimento artístico presentes na nossa montagem:
- a combinação do representativo, do abstrato, do irreal e do inconsciente.
- a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, buscando expressar o mundo do inconsciente e dos sonhos.
- os surrealistas rejeitam a chamada ditadura da razão.
- humor, sonho e a contra lógica são recursos a serem utilizados para libertar o homem da existência utilitária.
São exatamente esses ítens os já existentes no texto e que serão reforçados e transmitidos.
Objetivos:
Comunicar ao espectador o nojo, a solidão e o desespero, bem como as angústias sociais refletidas no microcosmos de uma familia tipicamente latino-americana, suas frustrações, anseios e mazelas. Mas através da linguagem surrealista ou pelo menos, acentuando tudo o que há de surrelista para ser acentuado nessa montagem (no texto, na interpretação, nos elementos de cena). E dessa forma, promover essa comunicação não de forma lógica, racional e direta, mas sinestética e fazendo uso também da linguagem do subconsciente.
Personagens, Interpretação e Preparação dos Atores:
Para a preparação dos atores buscaremos técnicas, jogos e reflexões de Jerzy Grotowski.
Nos apropriaremos da noção de intercessores, de Deleuze, e bissociadores, de Maurício Kartun, na busca de soluções criativas, dando total liberdade aos atores na constituição de relacionamento com as tecnologias disponíveis. E, a partir desses relacionamentos (o qual chamamos "jogo") vamos construir as cenas.
Durante esse processo, o texto só tem valor se o ator quiser, isto é, o ator faz o que quer e se desejar, utilizará o texto como pretexto para expressar aquilo que o surrelismo o faz sentir e o que tem de surrealista em si próprio.
O local escolhido para a encenação dessa peça é um barraco. Qualquer barraco, que transmita um ar decadente, desde um casarão abandonado, à uma fortaleza.
A iluminação será definida em conjunto com o iluminador da Cia. Teatro L.A. CHAMA, Gabriel Guedert.
Local e Cenário:
Pretende-se que a estréia se dê na Fortaleza de São José da Ponta Grossa, no norte da ilha de Santa Catarina, cujo perfil simbólico é muito intenso e reforça profundamente o caráter de prisão entre as duas personagens da peça, visto que a Mãe prende a filha para que esta nunca saia do barraco. Além disso, uma fortaleza é sempre um lugar parado no tempo, como a vida das duas.
Figurino:
A Mãe vestirá um longo preto, com mangas compridas, mais compridas que os próprios braços, tal qual uma camisa de força, ou pelo menos aludindo a uma. A filha estará da mesma forma. As estremidades de ambos os vestidos serão levemente deteriorados.
Iluminação e Efeitos Especiais:
Sonoplastia:
Algumas melodias próprias para determinados momentos da peça serão acrescentadas, como, por exemplo, o batuque dos rituais simbólicos.
Maquiagem:
A maquiagem da mãe reforçar as expressões de envelhecimento da mesma, bem como olheiras e um cenho carregado e ressentido. A filha, terá suas feições semelhantes às de uma louca.
RESUMIDAMENTE É ISSO!
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