quarta-feira, 6 de julho de 2011

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Ignácio & Maria"

Peça: "Ignácio & Maria"
Autor: Nara Mansur
Elenco: Priscila Souza e Ricardo Goulart
Data: 30/06/2011
Início: 9h

Hoje foi o primeiro dia de trabalho da cena 3. Confesso que tenho medo do primeiro dia, ele é a primeira ponte que se estabelece entre o estudo intelectual e memorização verbal de uma cena e sua materialização no corpo. Se não for bem tratado, o primeiro ensaio é o momento de se criar traumas, mesmo que momentâneos ou pequenos, e portanto, problemas a serem diluidos adiante.
Minha estratégia foi deixá-los a vontade e buscar "desligar" o botãozinho do julgamento cerebral e "ligar" o botão da sensorialidade, trazer o inconsciente pro ensaio e dispensar o consciente julgador.
Para tanto, fizemos um trabalho de relaxamento e percepção corporal de aproximadamente 2h, e as 1h restantes foram dedicadas à primeira exteriorização do texto.
No primeiro momento, pedi para que deixassem o corpo lhes ensinar, ensinar a andar, a ser vento, a ser fogo, a ser azul, enfim, deixar o corpo manifestar-se sem impor-lhe pré-planejamentos ou julgamentos limitadores. Por fim, pedí-lhes para serem esse corpo e curtirem esse aprendizado e essa integração, e buscarem a integração completa buscando, os dois, serem um único corpo. Conforme a música fosse cessando, solicitei que fossem esparramando-se no chão (unidos), e quando eles, os corpos, se acomodacem eles poderiam "soltar" o texto da cena 3 sem sairem daquele estado de sensorialidade, de expressividade corporal aguçada e estimulada. Importa dizer que independente das pequenas e naturais cobranças que surgem, o texto saiu da forma mais tranquila e apropriada para uma primeira tentativa. Buscaremos investir nesse trabalho adiante para fortalecer a "amizade corpo-texto-mente", sem criar bloqueios, pré-conceitos, traumas ou desconfortos no texto, OU MELHOR, sem projetar no texto, e por consequência, na peça como um todo, problemas psicológicos que são nossos e que podemos evitar dando às coisas uma a sua devida importância, sem super-valorizá-las.

O ensaio foi belo e me provocou outro "orgasmo" sensorial, isto é, fiquei todo arrepiado em vários momentos. O Ricardo estava num estado de entrega fantástico e a Priscila numa presença física e mental à altura. Repito o já dito: delicioso.

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