quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL!!!



Dedicada em especial à pessoas queridas como nossos amigos, familiares, professores e todos os demais leitores do nosso BLOG.


FELIZ NATAL!!!
  

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

DIÁRIO DO ATOR - Tobias Nunnes

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Ator: Tobias Nunnes
Data: 13/12/2010



De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

A peça é uma grande queda, o texto o vento que sopra rapidamente antes de se chegar ao chão. A transição entre o abrir do abismo, o jogar-se, a queda e o encontro com chão são o despertar daquilo que a enriquece.

Novamente a presença do texto me aprisionou, a tentativa de um novo trecho foi frustrada, e acredito que tanto Carlos como Anna Lia esperavam mais de mim nesse aspecto. Mas não classifico como negativo o ensaio, a velocidade proposta as vezes é um problema, tanto de recordar o que já está decorado e dizê-lo de forma veloz e sincronizá-los com movimentos, futuras marcações e máscaras faciais, que destaco tentativas de Anna Lia nesse ensaio, como benéficas e colaborativas para com meu desempenho e construção da relação cênica com ela, entre nossos personagens.

A repetição intensa de trechos jé então explorados deu nova margem de interpretação para a cena e me fez ver seus sutis detalhes,(Carlos colaborou muito com isso) detalhes a serem muito mais enriquecidos e trabalhados, por mais que minha ansiedade, assim como a de Anna Lia, de querer saber mais, fazer mais, além da curiosidade por querer expressá-las. Acredito que pontuações nítidas devem ser levadas em conta nesses trechos que por vezes passam batidos em função da existência de um texto ainda virgem, sedendo por leitura e carga interpretativa. A reptição modificada inspirou-me a criar mais, a reformular o que já temos e viemos construindo, dando consistência e maior precisão.

A velocidade no dizer o texto é relativa, como ressaltou Anna Lia, não é tão alta quanto deveria, mas favoreceu experimentações e descobertas, principlamente no quesito improvisação, não textual, mas motora. E daqui surge minha inspiração "locomotiva". A ideia de fazer a leitura com texto em mãos, por duas vezes me acalma e dá maior segurança/relaxamento (parte do meu aquecimento eu diria), justamente por não ter nem a presença nem a voz de Anna Lia em minhas leituras individuais, já percebi que ela auxilia no meu exercício de memorização. Esperava que fosse assim feito duas leituras, retirava-se o texto e seguíamos com aquilo já em mente, mas na segunda leitura, o diretor já fez interferências, muito ricas por sinal, mas ali já se seguia o processo posterior á leitura, já com movimentação e expressão com total desprendimento do texto, isso me confundiu, fez com que acelerasse, não só o dizer do texto mas também meu tempo, fazendo com que Anna Lia chamasse minha atenção, jogasse texto longe e dizer para acreditar mais em mim. Digo, não se trata de não acreditar em mim, mas é como se o texto transmitisse ou estabelecesse comigo, minutos antes, uma troca de energia, aquecimento mesmo, como já relatei.
Porém, a confusão por mim assim interpretada, de já na segunda leitura engatar na encenação, me fez perceber que não posso ter o texto sempre á minha disposição e que pode sim ser muito mais amplo, se ele estiver longe de meu alcance, do contrário é sempre uma hipnose, olhos fixos nele e possibilidade apenas de explorar a voz, corpo e face/máscara ficam para depois. E voz nem sempre é a prioridade.
Deve ser meu fascínio pelas letras, como disse Anna Lia, um Bibliotecário em cena... deixarei isso de lado que é só um mínimo detalhe. (rs)

Amada minha... estou disposto a seguir brincando e ser feliz no mundo cênico contigo... mas preciso conhecer o terreno por completo para depois explorá-lo, abusá-lo de todo... me ajuda nas descobertas? Desbravemos caminhos? Estou disposto a me aventurar, segure minha mão e abriremos portas ou encontraremos abismos para nos jogar.

A inspiração "motora" já fruto do ensaio anterior (o melhor ensaio), ganhou força ao final desse, me senti muito bem fazendo, mesmo com energia baixa após o término. Quero poder tentar sugerir mais nas brechas até então inperceptíveis das cenas já trabalhadas e dedicação completa rumo ao que virgem ainda permanece... permanece assim só por enquanto. Vamos desfolhá-lo Sr. Fascínio.

All in good time.
"Ver tudo é não ver nada
Perder a madrugada enrolando bilhetes á esperar o correio abrir suas portas.
Nas nuvens vejo desfilar cores e formas feitas para sonhar
Aguardo.
Caixas sentimentais para guardar trecos e tudo o que sobre ti ainda não sei.
O meu coração escuro, dita palavras contemplando o sol que nasce
Junto ao tempo
Junto a mim
Junto a nós.
Extraio da mais fina riqueza natural
O potencial porcelanado, branco e pincelado
Sobre tudo o que escrevo e a ti destino.
Arte pintada á mão.
Extração benéfica
Fortificada".

Theofilos Garr

DIÁRIO DO ATOR - Tobias Nunnes

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Ator: Tobias Nunnes
Data: 10/12/2010



De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

As palavras que melhor podem definir esse encontro (Intitulado - O melhor ensaio) é surpresa e superação. Surpresa pelo fato de surpreender-me comigo mesmo no quesito texto, ousadia e experimentação, tendo me sentido como personagem de fato, vivenciando seu mundo, e suas características (por mais cruas que ainda estejam), como não estive, por mais que tentasse, em nenhum outro ensaio; com Anna Lia pelo fluído e disponibilidade, mantivemos a sincronia, e pela primeira vez jogamos, do início ao fim com alternância de intensidade, e Carlos pelas observações pontuais e presença estimulante. Destaco que a partir desse ensaio consegui desbloquear a figura do diretor como uma espécie de avaliador crítico e passei a enxergá-lo de forma mais leve, como o estimulador do jogo, mais que um público classificado especial (VIP) , mas figura de importância fundamental para construção e reconstrução dessas vidas que estamos nos propondo a trazer á tona. Colaboração. Cabe ressaltar que a parte crítica, observações e conclusões do diretor não estão de todo descartadas, é até muito bom tê-las presente durante os ensaios, apenas, acredito, que a partir de agora consegui chegar, ou estou chegando num estágio em que passo a ver a crítica do que proponho á peça mais como um estímulo e não no sentido de que estou errando e que meu tempo/processo são falhos para o desenvolvimento de todo o trabalho em si. Passei também a enxergar que ousadia enriquece, erro também é estímulo e libertar-se por instantes, esquecer-se de si e de tudo que o circula e o envolve fora dali, contribui muito mais. Na manhã deste ensaio esqueci-me de mim, estava em/com Balbuena, e Balbuena em mim... embora deixasse a vozinha se manifestar apenas quando o texto falhava e não era dito, ou dito sem completa segurança " Você sabe o texto... Você deve saber o texto, pelo menos até tal trecho... Anda! vais conseguir" e pá me jogava.
Minha percepção sobre a peça tem aguçado a cada ensaio, e a cada ensaio, como já dito noutro diário, me sinto mais integrado, mais preparado para apresentá-lo (Balbuena) e mais fortificado em cena.
A sensação prévia foi de esgotamento, como se precisasse me encontrar novamente, acredito que minha energia baixe muito depois de um ensaio intenso, no qual minha doação tanto facial, quanto corporal e vocal, tamanha a vontade, minutos depois, de me recolher, ficar só ou até mesmo de chorar sem qualquer motivo aparente, fico mais sensível.
Acredito que um abismo está se abrindo para me jogar, durante a queda Balbuena se apresenta, e na queda, já caído, retorna o Tobias, sem qualquer ferimento, apenas carregando consigo um misto de estranhamento e leveza. Benéfico.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

DIÁRIO DO ATOR - Anna Lia

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Atriz: Anna Lia Sant'Anna
Data: 13/12/2010

Uma nova percepção

Frente aos avanços do ensaio anterior, mantive-me empolgada para o que surgiria nesse. Contudo, esbarrei em algo que me gerou incômodo, a tão citada "intelectualização". A insegurança no texto retrocedeu. Assim, mantivemo-nos grande parte do ensaio refazendo exatamente o que já tínhamos avançado anteriormente, além de ter decorado um pequeno trecho, se comparado aos últimos ensaios.

Logo, senti-me ansiosa, pois sentia a necessidade de experimentar, e cada minuto passado, dedicado aos repetidos erros, fruto da desconcentração de ambos os atores, perdia a energia que motivara-me no início do ensaio.

Muitas vezes chamei a atenção do Tobias, dizendo-lhe que soltasse o texto e acreditasse em si, que as palavras fluiriam e se não, encontraríamos uma solução. No entanto, avalio que essas sugestões não eram cabíveis, pois o deixavam ainda mais tenso, além de ter claro que torno-me controladora, o que avalio negativamente.

Entretanto, penso que essa dependência textual de Tobias, é fruto de sua autocrítica elevada, que impede seu relaxamento e aumenta sua insegurança. Conhecendo o trabalho dele, sei que uma vez seguro, ele faz proposições maravilhosas. Contudo, minha insistência reside em romper essa barreira do "medo" que ele mesmo se referiu.
Entendo esse processo como um meio de aprendizado prazeroso, em que experimentar-me atriz, é colocar em prática minhas idealizações, esbarrando nas infindas dificuldades desse ofício, absorvendo delas aprendizados sólidos e transformadores.

Por isso Toby, te convido... vem brincar comigo? Vem ser feliz nesse mundo cênico, também?!

Depois desse breve recado, que me será respondido com todos os argumentos coerentes, continuo a explanação dos resultados obtidos durante o ensaio.

Quando partimos para a encenação, nos mesmos moldes que o último encontro, aumentando o ritmo gradativamente, percebi que nossa velocidade alta, não estava tão alta assim. Porém, agreguei agora mais precisão na execução do exercício. Trabalhei o foco, triangulação, máscaras faciais, modulação de voz e comecei a buscar gestuais e tentar oposições maiores. Contudo, ainda indícios a ser buscados com maior intensidade e esforço.

Concluo, afirmando que precisamos avançar no texto, pois muitas Rosauras estão por apresentar-se e eu curiosa para expressá-las. De qualquer maneira o tempo não pára e a minha vontade por esse projeto também não.

DIÁRIO DO ATOR - Anna Lia

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Atriz: Anna Lia Sant'Anna
Data:10/12/2010

De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

"O melhor ensaio"
Sim, se houve um dia de descobertas, superações e aprendizado foi hoje. Creio que o mérito, primeiramente consiste nas proposições do diretor. Inicialmente ele nos fez quebrar a barreira do texto, com a continuação do exercício do ensaio anterior, ou seja, repetí-lo diversas vezes até a máxima velocidade que poderíamos, até atingirmos sua automatização. Depois disso experimentamos o aumento gradativo da velocidade de encenação.
E então a "SURPRESA"! Justamente, uma simples mudança no ritmo, através da aceleração voluntária, obtivemos resultados extraordinários. Conseguimos encontrar-nos quanto personagens. O corpo começou a expressar-se de maneira convincente, a voz de maneira ousada, olhares e expressões, enfim, ainda distante de um "ideal", mas os primeiros indícios dos caminhos que buscaremos para concretizar nossas intelectualizações.
Sentir-se coerente em cena tem um sabor bem melhor que a frustação de não convencer-se do que faz, logo, as pequenas verdades mostrarem-se presentes, a vontade de aprofundar-me nessa entrega intensificou-se consideravelmente.
Realmente, as máscaras faciais ainda muito superficiais, a voz natural, a constância nas ações ainda cambaleantes, porém o "permitir-se", fundamentou nossos avanços e o caminho a seguir. Atribuo a melhoria nessa etapa, a concentração que nos encontrávamos, além do pequeno intervalo que tivemos entre um ensaio e outro.
Salientando que nesse dia, meu cansaço físico era razoável, porém creio que esse fator não influenciou, pois busquei compensá-lo com uma dedicação ainda maior.
Avalio também que nossas construções foram coletivas e bem orientadas, sendo imprescindivel o sentir mais do que o cobrar-se.
Chamo a atenção para uma dificuldade encontrada, quando percebia que o jogo funcionava e as situações formadas geravam cenas cômicas, por vezes me desconcentrava e ria, algo de difícil controle, mas totalmente necessário para a qualidade do trabalho.
Entretanto, fica claro que somente o esforço e a entrega podem nos levar a cada novo momento à novas conquistas e mais apaixonante torna-se o processo.

DIÁRIO DO ATOR - Anna Lia

Peça: " Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Atriz: Anna Lia Sant'Anna
Data 09/12/2010
De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

Lá estávamos nós, em uma manhã ensolorada, aptos a começarmos o ensaio, quando recebemos a ótima noticia de que iríamos "brincar" no Planetário da UFSC. Realmente, aproveitei e me diverti bastante. Segui as orientações do diretor, para não "forçar" jogos, através de busca de interpretações. Se as possibilidades de jogo surgissem, aproveitassemos. Portanto, fui com o intuito de conhecer e chegando, aprendi, experimentei, usufrui da ciência mesclada com a diversão.
Sem dúvida houve um relaxamento e uma interação bastante grande. Contudo, ainda percebi que meus parceiros de "experimentação", estavam bastante contidos. Porém, é necessário conscientizar-me de que timidez não é algo grave.
Logo depois, uma proposição deliciosa: ensaiar no palco do bosque. Primeiro por ser ao ar livre, segundo que o dia estava verdadeiramente agradável. O diretor sugeriu o primeiro exercicio: bater texto em uma velocidade cada vez maior. Empolgada pelo vivenciado momentos antes, comecei com uma grande energia, movimentei-me e incentivei o mesmo ao Tobias. No entanto, o que eu buscava era jogar desde logo, além de mostrar ao meu colega que as palavras tem menos sentido que as ações. Contudo, esse jogo de "velocidade" integral, prendeu-o mais do que imaginava, causando-lhe mal estar e desconcentração. Logo, partimos simplesmente pra proposta anteriormente sugerida, ele sentado e eu com a energia mais retida. Devido ao tempo bem dedicado à exploração do Planetário, o ensaio permaneceu nesse âmbito.

Avalio como um dia extremamente inspirador, pois consolida a ideia que está tudo conectado, ciência e arte, nessa coisa que chamamos de vida. Particularmente, vivencio as várias "facetas" de Anna Lia, mesclando-se, em pról de um crescimento sem tamanho.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

DIÁRIO DO ATOR - Tobias Nunnes

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Ator: Tobias Nunnes
Data: 09/12/2010
De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

Acredito que a ideia do ambiente lúdico influenciar no estado corporal em muito se aplica a partir da visita planejada ao planetário. Foi divertido e agradável. Estive, falando mais particularmente, durante interação com todos os "brinquedos", me sentindo mais conectado e também parte efetiva da composição de toda a peça, da direção que me guia e da contracena que me influencia, me abriga, me acompanha e prontamente me fortifica numa saudável relação; Abre meus olhos, e toca em pontos até então pouco perceptíveis para mim. Estou me (re)conhecendo. Com a crescente responsabilidade, cresce também uma relativa sensação de medo, da possibilidade do inalcançável... de que talvez possa não dar conta do que está a mim sendo delegado, emprestar corpo para que um personagem exista por instantes de forma consistente e convincente. A sensação dominante depois de toda a atmosfera desprentenciosa e natural, lúdica com os briquedos e ouvidos atentos ás explicações do menino bonitinho no planetário, foi de medo. Conforme a velocidade do texto aumentava, Anna Lia em turbilhão propondo que a acompanhasse e atingíssemos o ápice tanto em movimento quanto fala, o estalar de dedos simbólico, o código da velocidade, o palquinho do bosque, a não racionalização... não consegui acompanhá-la, e veio um misto de pára tudo porque vai explodir e você vai sair ferido, fiquei levemente angustiado e consequentemente esqueci o texto, até partes da primeira cena, já consolidadas. Sentei, ouvi Carlos, Amenizou... mas mesmo assim me senti em débito por não ter conseguido sustentar aquela espécie de jogo veloz e voraz. Valeu a tentativa, e isso carrego comigo, o fato de ter tentado e de que isso é parte dessa monstruosa composição. O desafio permanece, e assim como permenece de pé, permanece também aceito.


"Vou... vou levar... o que tempo que for, vou.. vou levar, até devendar caminhos e ver como chego naquele que me leva á você"


[...]

domingo, 12 de dezembro de 2010

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Canción de cuna..."

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"

Autor: Jorge Díaz
Elenco: Anna Lia e Tobias Nunnes
Data: 10/12/2010
Início: 09h00min


Hoje ensaiamos na 401. 
Começamos o ensaio com o exercício de looping de texto (que erroneamente chamei de looping cena, que é outra coisa, e que fizemos hoje também e que descreverei adiante).
Os atores tiveram a liberdade de bater texto com a peça em mãos por 2 vezes seguidas. Não por completo, mas somente as cenas que já tinham memorizadas razoavelmente. Em seguida, abandonariam o papel e continuariam o diálogo cada vez mais rapidamente, retornando ao começo assim que chegassem no fim. Fizemos isso por 1h20min para que pudessem ganhar confiança no texto e liberar a mente para brincar. Ou seja, colocar o texto na mente para depois jogar pro corpo e do corpo para a cena. 



Essa é a técnica da exaustão do texto, que faz parte da estratégia do "balão em queda". Quando o balão está em queda, qual a primeira iniciativa? Eliminar peso. Isto é, por outro lado, para o balão ganhar altura, precisamos fazer com que coisas que sejam pesadas para os atores deixem de sê-lo, no caso, o texto não pode ser a maior preocupação, razão pela qual, vamos exaurí-lo ao ponto de incorporá-lo.  
Depois fizemos um alongamento/aquecimento corporal para que eles pudessem acionar o corpo, e verificar como estava seu estado físico para dar continuidade ao ensaio.
NOTA: Observei no ensaio deles que a construção do personagem passa pela disponibilização do corpo/voz do ator para tanto. 
Conversamos em seguida sobre os quatro pontos fundamentais do aquecimento, e de como eles se reconhecem ou são afetados na prática:
1.  ESPAÇO = pelo Reconhecimento/Apropriação/Profanação/Uso;
2.  EU = pelo Físico-Alongamento/Relaxamento, voz & psico-emocional/Auto-observação e percepção interior;
3.  NÓS = pela Relação/Jogo de Estímulos;
4.  PEÇA = estudo do texto, da cenas (criação ou acesso à imagens, rítmos, objetivos, intenções, relações e jogos).

Em seguida, conversamos um pouco sobre a construção do personagem, onde poderíamos começar a refletir sobre dois ítens fundamentais:
1. CORPO/VOZ: deixar o corpo disponível para criar imagens ou materializar imagens conectadas com a compreensão do personagem vista pelo seu intérprete/ator;
2. OBJETIVOS: uma série de intenções ligadas à momentos distintos da peça e relacionadas à evolução/movimento dessa estrutura.

Depois fizemos o exercício de Looping de cena, nele buscamos fazer a cena com as marcações básicas, repetidas vezes, em velocidades cada vez mais elevadas. Da mesma forma que o texto deveria ser falado cada vez mais rápido, os gestos, expressões faciais, intenções, movimentações, deveriam acompanhar essa velocidade. Em síntese, a cena deveria ser representada da mesma forma que se representa na "velocidade normal", porém, como se alguém tivesse apertado o botão "Fast motion", e cada vez mais veloz a cada vez que retornasse ao começo.
Primeira repetição:
Uma das últimas repetições:

Esse foi o exercício mais ESPETACULAR para esse elenco, os ajudou profundamente à encontrar soluções para problemas absolutamente normais e compreensíveis que ambos tinham, mas que não poderiam começar a ser vistos como bloqueios graves.

Vídeo desse processo:

(compare com um vídeo do ensaio de 02/12, abaixo)



Anotações que fiz durante o ensaio:
  1. O exercício da cena infinita (Looping de cena), em velocidade cada vez maior, dá estabilidade, constância de gestos, movimentos, e faz com que os atores sustentem mais os movimentos e expressões, acentuando sua objetividade em cena. Isso porque, eles acabam sem tempo para "desconstruir as imagens que criam, os gestos, expressões, etc, bem como, evita que a cada ensaio eles sempre façam gestos diferentes, portanto esse exercício também demonstrou-se excelente para partiturizar a cena.
  2. Todo o corpo dos atores estava conectado com mais intensidade em função do estado de atenção/prontidão que se mantinham para manter e acelerar a velocidade do texto ao mesmo tempo que não errá-lo.
  3. Para o corpo do Balbuena, assim que vi uma movimentação qualquer do Tobias, me veio a idéia de sugerir (mas não achei prudente fazê-lo nesse momento) que ele virasse primeiro os membros superiores, inferiores e a cabeça e por último o tronco, quando houvesse necessidade de locomover-se.
  4. Quanto mais rápido falavam, mais tendiam à conectar velocidade com raiva e, assim, acentuar esse sentimento nas falas. Pedi que atentassem para isso, e corrigissem quando achassem necessário.
  5. Pedi para não esquecerem de modular o rosto, as mudança que eles necessitam realizar em suas expressões faciais enquanto aumentavam a velocidade. Isso para não deixar que a velocidade fosse apenas oral, mas o corpo não a acompanhasse.
  6. Pedi também para que modulassem o humor, as intenções, enfim, tudo o possível no decorrer desse aumento de velocidade.
  7. Esse exercício matou as pausas dramáticas que eu estava tentando remover através de repetidos alertas feitos aos atores, mas é normal que muitas vezes a gente só aprenda fazendo. E nesse caso, MISSÃO CUMPRIDA! Eliminamos as transições psicológicas que os nossos personagens loucos não tem, ou se têm, as têm em momentos impróprios e durações diferenciadas (maiores que as comuns).
  8. Quanto mais rápido , mais limpo ficavam (limpo = objetivos + econômicos + precisos), pois eles não tinham tempo para tantos gestos, isto é, para sujar. Isso tem relação com o deixar a cena mais objetiva.
  9. Esse exercício muitas vezes me pareceu uma lupa sobre a cena, pois parecia que estava vendo tudo acentuadamente. EXCELENTE!
  10. A partir das últimas repetições, percebi que os atores (em especial a Anna Lia), estava começando a se desconcentrar por conta das minhas risadas, razão pela qual escrevi e a comuniquei: Incluam os demais presentes no jogo, hoje sou eu, amanhã será o público. Quando não incluímos esses entes, eles nos interferem  durante o jogo e reagimos de duas formas distintas, com raiva, ou com riso. Isso para evitar rir, que é o resultado à não inclusão dos demais como jogadores desse grande jogo que é a peça; isso mataria a comédia.
  11. Com a velocidade cada vez maior, não dá tempo de pensar/julgar os próprios atos, muito menos de acreditar ou não nas suas ações, os atores só têm um objetivo, "fazer no mais breve tempo possível o que têm que fazer". Assim, eles acionam o corpo, já que não dá tempo para ficar acionando a mente/razão, e tudo conecta-se: corpo, voz, intenção. Resultado da atenção, da presença, que geral objetividade em estado puro! Espontaneidade TOTAL! ISSO É EXTRAORDINÁRIO!!!
  12. Como ambos não têm tempo de pensar, o corpo busca imagens no sub-consciente (o consciente está ocupado com aquilo que o toma por completo no curto espaço de tempo que lhe sobra) para materializar no corpo as soluções criativas. De modo que essas imagens tornam-se espontâneas, sem tempo para pré-avaliações ou julgamentos interiores/mentais.
  13. A cada passada eles limpavam mais os gestos, movimentos e expressões que faziam e acrescentavam outros nos momentos que ainda estavam pobres destes elementos. Enriquecendo ainda mais a sua partitura ao mesmo tempo que a enxugavam.
  14. Sem a cerebralização do texto, o uso da mente, da razão, eles se tornaram livres para serem produtores, fontes de estímulos e não, de idéias! Razão pela qual acabaram criando um jogo de estímulos e reações o que resultou no verdadeiro jogo. Um jogo espontâneo e "estimulante"! EXCELENTE!.
  15. Quanto você decora um texto sozinho, você não inclui o outro jogador nele, e quando vai passar o texto com esse jogador, por não tê-lo incluído no momento da memorização, você acaba por desconcentrar-se (leia-se, fugir do jogo) e esquecer-se.
O ensaio de hoje foi O MELHOR DE TODOS! PARABÉNS AOS DOIS! 
Na próxima semana vamos repetir esse ensaio para garantir que esses ganhos sejam reais conquistas e passaremos em seguida para aprofundar a construção dos personagens e aperfeiçoar as cenas da peça.
Nota final: Anna Lia precisa agora começar a dar mais vida ao rosto da Rosaura, ela ainda mantém a expressão muito "neutra" durante alguns momentos da peça. Vamos começar a trabalhar a idéia de máscaras faciais. Veja:
De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Canción de cuna..."

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Díaz
Elenco: Anna Lia e Tobias Nunnes
Data: 09/12/2010
Início: 09h00min

Hoje, como parte da estratégia de deixar Tobias e Anna Lia mais a vontade (entre si e comigo), os levei ao planetário da UFSC.  Essa idéia parte do pressuposto que num ambiente lúdico, de jogo e informal, eles resgatem e tragam para o ensaio a maravilhosa relação que têm entre si, e que não me vejam como aquele que os julga, mas aquele que os acompanha. Afinal, preciso ser incluído no jogo deles, isto é, eles devem me ver como outro jogador nessa relação que se estabelece, para que os ensaios não se tornem torturantes momentos de avaliações feitas por mim.

Vocês podem perceber nessa foto, que a experiência no planetário surtiu efeito, ambos se soltaram e brincaram, isto é, mantiveram a relação que já possuem. Tivemos a companhia de um instrutor próprio do parque que me pareceu um elemento estranho ao jogo. Evidentemente que isso não é uma crítica ao trabalho do jovem que foi muito atencioso e gentil conosco, me refiro apenas à sua interferência no jogo que constantemente se estabelece entre nós do grupo.


Vejam nessa outra imagem, o retrato do que as relações entre os objetos e sua utilidade dentro de um jogo lúdico provoca nos atores. Esses objetos podem servir como intercessores, isto é, provocadores de solução criativa tão somente pelo estado de relaxamento ou bem estar que provocam nos atores. Nos dois, o efeito desse provocador/intercessor não foi além de um estado de abertura para o ensaio. Quero dizer que após o planetário os dois estavam mais abertos ao jogo cênico, mas não percebi de imediato um resultado criativo expressivo. Isso não significa que esse resultado não virá, afinal, ainda não tenho certeza do "quanto" tempo dura um processo intercessivo, ou seja, ainda não sei quando um intercessor pode fazer efeito, se apenas imediatamente ou pode ter resultados futuros. 


Após o parque, onde, diga-se de passagem, os atores não se sentiram confortáveis o suficiente para puxar qualquer trecho do texto da peça, fomos para um ambiente convencionalmente teatral, o "Palquinho do Bosque".
Alí fizemos um exercício que tem por objetivo de fixar o texto na memória (especialmente do Tobias). Trata-se de repetição do texto de forma cíclica, é o exercício de "Looping de cenas". Nesse exercício os atores deve "bater" texto o mais rápido possível, de maneira infinita, isto é, chegam no final, voltam pro começo (seja de uma cena específica, de um trecho escolhido ou do máximo de cenas possíveis) e a cada reinício de texto, a velocidade necessariamente deveria aumentar. Assim fizemos, percebi de começo e vocês podem confirmar na foto, que ambos começaram a caminhar e movimentar-se com a velocidade proporcional, o que resultou numa dificuldade de concentração do Tobias que fazia com que o exercício fosse se tornando um suplício. Até que o alertei de que pedi apenas que o exercício fosse direcionado para o texto, ou seja, se ele iria fazer o looping de cenas sentado, deitado, de cabeça pra baixo, isso não era o foco. Então ele sentou-se e deixou claro apenas que tentou entrar no jogo que a Anna Lia havia proposto, pois foi ela que começou a mover-se. Por um lado, percebemos todos, também, a necessidade de se respeitar o limites e as necessidades do outro para que o jogo seja verdadeiro.

Depois que a Anna Lia entendeu que a necessidade do Tobias de sentar-se não tinha relação com uma psicologização do texto, mas com uma necessidae natural de "colocá-lo na mente para posteriormente, conforme adquirisse segurança ele o pusesse no corpo", então o exercício passou a fluir.

Por fim, conversamos sobre a necessidade de trazerem para a cena a excelente relação que possuem e estimularem sem com isso lançar expectativas ou ordens implícitas, para que a relação não seja "forçada" o que a torna necessariamente falsa.

No dia seguinte foi feito outro ensaio... e esse foi ESTUPENDO! Falarei dele no próximo post.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Los pájaros..."

Peça: "Os pássaros se vão com a morte"

Autor: Edílio Peña
Elenco: Bárbara Danielli e Vera Ferreira
Data: 08/12/2010
Início: 9h00min


Hoje estamos ensaiando na sala 401.

Nosso ensaio foi baseado em contato total. 
Iniciei a conversa parabenizando e avisando ao elenco que as duas, Bárbara e Vera, são elenco que mais tempo está trabalhando no nosso grupo, e que usassem isso de estímulo e motivação para investirem cada vez mais no fortalecimento dessa relação para criarem. As duas estão juntas ininperruptamente desde a última semana de Maio/2010. São quase 7 meses de trabalho.
Em seguida, como eu disse, buscamos trabalhar o contato, visual e corporal, para fortalecer a relação. Inicialmente, portanto, elas iniciaram aquilo que eu chamo "looping de texto", onde bateriam o texto em repetição infinita até que lhes fosse solicitado encerrar. Paralelo a isso, pedi que elas fizessem esse exercício com olho no olho e sem preocupação com interpretação ou marcas. Elas estavam precisando repassar o texto, pois a um bom tempo não batiam na íntegra.
Depois, conversamos um pouco sobre a necessidade de se buscar as imagens que do texto advém no momento do aquecimento, do início do ensaio, para que este seja proveitoso e criador para todos.

Pedi, então, que elas fizessem um relaxamento (CONTATO CORPORAL), repetindo o exercício de relaxamento/manipulação corporal feito anteriormente. Em que cada qual ao seu tempo massageia o corpo da outra, certifica-se de que a musculatura esta relaxada, de que não há resistências, e, então começa a manipulá-la pelo espaço. A manipulada começa um pedaço do texto e se começar a interpretar, a imprimir alguma coisa no corpo, a outra manipulará ainda mais fortemente para impedir a interpretação.

Depois, já quase sem tempo, pedi o estudo da cena 10.6 em diante, a da incorporação e relação... a mais difícil.
Começamos a marcar a coreografia de alguns movimentos e dar algumas marcas.
O ensaio foi proveitoso mas parece que passou rapidíssimo.

Expectativa para o próximo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Canción de cuna..."

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Díaz
Elenco: Anna Lia e Tobias Nunnes
Data: 02/12/2010
Início: 09h00min

Como parte do aquecimento pedi aos atores que batessem texto, com a peça em mãos. Isso foi feito com o objetivo de fazê-los trazer imagens da peça, ritmos, corpos, idéias, bem como, dar um pouco de segurança no texto também.

De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

Depois conversamos um pouco sobre a importância do jogo e a relação secundária que se estabeleceria com o texto enquanto pretexto do jogo e, não enquanto elemento primordial da peça. Depois discutimos um pouco sobre a necessidade do ensaio, com o intuito de reforçar aqueles 4 tópicos discutidos anteriormente, os quais se o ator levar a sério, terá um ensaio no mínimo rentoso: o "eu", o "espaço", a "peça" e o "nós".
Reparei que durante as primeiras passadas "livres" da peça eles se posicionavam geralmente nos cantos da sala. Posso estar errado, mas leio nisso uma insegurança ainda, o procurar onde se apoiar, e por outro lado, a falta de atitude: o palco é meu. Reflitamos.
De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista
Me pergunto hoje, vendo-os se eles estão certos ao querem criar o corpo do personagem. Minha dúvida se divide em duas vertentes, primeiro, se sim, se é necessário, já não teriam eles o corpo do personagem? Afinal o ator sempre pensa que vai criar um corpo novo, quando não percebe que na realidade o que vai fazer é, no máximo, acrescentar poucas características experimentais a mais no seu próprio corpo. E a outra questão é: esse processo não deveria vir com maior intensidade (apesar de já iniciar paralelamente) quando o texto estiver completamente incorporado. Pois, quem dá os maiores indícios do corpo do personagem que não o texto, senão, qual o sentido da palavra incorporar. Por isso, Rosaura e Baubuena já tem um corpo inicial que são os corpos respectivos de Anna Lia e Tobias, tanto mais corpo ganharão, tanto mais trejeitos, características adquirirão, quanto mais os dois atores incorporarem (colocarem no corpo) o texto.

Bem, voltando ao assunto anterior, conversamos sobre a importância do aquecimento como start do jogo, e da importância da peça ser encarada como jogo/play/jou e não como algo sério e sagrado. E da necessidade de se brincar para, no estado em que o jogo nos deixa, colhermos as imagens que espontaneamente brotarão da nossa criatividade para explorarmos em cena.
De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista
Depois desse bate papo, fizemos um aquecimento corporal, um PLASTIQUE, onde eles foram convidados a exercitar o material intelectual fruto do nosso bate-papo anterior. Sugeri que eles usassem todo seu material interior e exterior como fonte de criação: se estivessem angustiados, aflitos, afoitos, nervosos, preocupados, alegres, eufóricos, etc, que canalizassem esse material para deixá-los em estado criador, por outro lado, que através do plastique, estudassem o próprio corpo e buscassem estar conscientes das imagens possíveis que eles poderiam gerar a partir desse exercício.
Depois eles repassaram as cenas iniciais mas ainda não conseguiram transformar a excelente relação que tem fora do palco numa relação de múltiplos estímulos dentro do palco, para poderem criar uma relação que resultará num jogo cênico.
Conversamos também entre deixarem-se levar mais pelo sensorial (o pai do prazer) do que pelo intelectual (o pai do julgamento), para poder sentirem-se livres para brincar e usufruir do estado que disso decorre.
Uma breve avaliação: ambos são o elenco que todo diretor pediu a Deus, esforçados, dedicados, disciplinados e dispostos. O que falta? Acreditarem em si, estimularem-se mais, jogarem mais, brincarem mais, e pararem de se julgar (leia-se, auto-dirigir, ou dirigir por mim ou dirigirem-se mutuamente).

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Los pájaros..."

Peça: "Os pássaros se vão com a morte"
Autor: Edílio Peña
Elenco: Vera Ferreira
Data: 03/12/2010
Início: 9h00min

Hoje estamos ensaiando na sala 401.
Por acidente a Bárbara não veio (despertador programado para o dia errado).
Trabalhamos apenas eu e a Vera.
O trabalho a dois foi excepcional, haja vista que tive tempo para exercitar e discutir uma série de coisas com ela, o que rendeu ótimos resultados.
O ensaio de hoje não teve muitos intercessores, foi mais dedicado à trabalharmos algumas cenas complexas.
Bom, vamos à descrição do ocorrido.
Repeti com a Vera o PLASTIQUE, isolamento de movimentos, no que a Vera realizou muito rapido. Em seguida dei à ela alguns minutos, creio que 20, para ela criar improvisações sobre cenas que ela escolhece. Assim ela fez.
Pedi que ela continuasse a improvisar olhando para a objetiva da fotográfica como se fossem os olhos da Bárbara, e ela não sabia que estava gravando. Ela criou uma boa relação com este objeto. Queria dar-lhes o ponto de vista da parceira de cena, para verem como está esse relacionamento.
`


Percebeu que a Verinha perdia o foco dos olhos da Bárbara as vezes? Ou seja, em vez de tratar a câmera como os olhos da parceira de cena, ela as vezes simulava essa presença em outro lugar.

Em seguida pedi para a Vera repetir o exercício com outras cenas. E a escolhida foi a complexa cena da incorporação. O objetivo era tirar do corpo qualquer premeditação sobre o texto, e deixar aparecer algo diferente, não necessariamente bom, apenas diferente. Então, para estimular a espontaneidade e dar total liberdade de movimentação corporal à atriz, fizemos um trabalho de percepção e relaxamento do corpo que chegou nesse resultado, abaixo.

No ensaio de hoje a Vera me ensinou algo muito importante que, assim como o aquecimento, a repetição ajuda a quebrar a casca, as máscaras, as resistências psicológicas do ator, até o ponto que ele chega no esgotamento. E esgotamento aqui não é esvaziamento de idéias, é esvaziamento de resistências e premeditações intelectualizantes ou psicologizantes da cena, que acabam "matando" o jogo. Com a repetição chegamos num esgotamento inconsciente, que por sua vez, levou à sensação de liberdade para criar o que "desse na telha", e foi o que houve. Não é o esgotamento que será levado para a cena, afinal não há tempo para antes da apresentação fazer as atrizes repetirem a peça ou determinadas cenas à exaustão. O que será levado para a cena é o resultado desse esgotamento, a criação que vem espontânea e livremente. Esse estado de liberdade das próprias resistências psicológicas. Concluo que, entre várias outras coisas já expostas aqui, o aquecimento ajuda a eliminar resistências físicas (alongando e dando consciência do estado dos músculos) bem com eliminar resistências emocionais/psicológicas através da repetição exaustiva de pequenas cenas, preferencialmente que sejam as mais difíceis de fazer. E porque são difíceis? Justamente porque são aquelas que os atores apresentam maiores resistências à fazer. Parece lógico não é?...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DIÁRIO DO ATOR - Tobias Nunnes

Peça: "Canção de Ninar para um Anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Ator: Tobias Nunnes
Data: 02/12/2010
Personagem: Balbuena

De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

Diário atípico, sempre esperava as considerações e postagem do diário de direção para por fim escrever o meu com as pecepções, sensações e possíveis aprendizados. Não que ache que seja algo negativo, a não publicação do diário do diretor, pelo contrário, acredito que possa relatar minhas observações sem necessariamente precisar estar em sincronia ou saber dos apontamentos que a direção tem a fazer do último ensaio, mesmo que de leve já os saiba. Enfim... é uma novidade, escrever o primeiro diário sem antes ter tido um "feedback escrito", por assim dizer, onde pudesse contrargumentar. O que, também nem sempre procede.

Local de Ensaio: Sala branca, menor do que os locais até então explorados, deu, inicialmente, outro tipo de sensação, a princípio até mais aconchegante e intimista, mas as salas pretas ainda me são mais simpáticas. Embora não dê muito crédito á lugares, tento me adaptar e descobrir se há algo além de casualidade ou razão para estar presente neles. Observo, e considero que a escolha foi favorável, estando ainda num processo inicial de descoberta, lugares mais intimistas tendem a colaborar para com desempenho de algo. O tamanho da sala não impediu que grandes movimentos fossem explorados, tanto quanto os personagens e suas personalidades. É como se o local onde estavámos não impedisse por completo a experiência de algo grande. Soa até como uma espécie de desafio.

Sobre mim mesmo: De fato, ainda encontro certos bloqueios e uma corrente que, de certa forma me aprisiona ao texto, não permitindo que meu corpo relaxe e esteja totalemente aberto e disponível para o jogo. De acordo com observações em outros trabalhos, não tão grandes, trabalhosos e a longo prazo como este, notei que sabendo o texto em um todo consigo ousar mais, me aventurar mais, pois não corro o risco de misturar texto a experiência de um jogo, mas sim estar apto somente a misturar o jogo com outras propostas, sejam de corpo ou de voz, mas o texto estará lá intacto. O que tem sido um desafio nos últimos ensaios, me adequar ás propostas, ao exercício, que sei de favorecerão a criação do personagem e ainda assim recitar o texto dentro uma proposta do que poderia vir a ser algumas das cenas. É uma mistura muito curiosa que vem se estabelecendo. Os pontos de tensão sempre estão presentes, mesmo que de início. O exercício de "consciência-exploração", isolamento de partes do corpo, me deixou muito inquieto e ansioso, mas ao fim quando a permissão de mover e explorar todo e qualquer tipo de movimento sob regência de toda e qualquer articulação que se mostrasse á vontade para se movimentar, me animou muito, revigorou e estimulou corporalmente a querer descobrir mais sobre a possibilidade das sensações contidas nos movimentos e expressões. Por mais que isso possa parecer um estímulo individual. Quanto aos estímulos a serem dados e retribuidos a Anna Lia, certamente devem ser trabalhados e descobertos, já que falta de sinergia e envolvimento não há. Mas por ela estar, de certa forma mais adiantada, textualmente, talvez corporalmente, faz com que me sinta na função de me igualar , para que assim o processo possa seguir de uma forma mais equilibrada. Por mais que meu tempo seja diferente do dela, há como tornar nivelado e mais produtivo, com subsídios necessários para acelerarmos com qualidade, obtendo promissores resultados. Anna Lia tem certa razão nos seus comentários, exceto quanto a frieza, que pode estar sendo confundida com introspecção, esta não sendo revertida em estímulos a ela. Já que quando ocorre, ideias brotam, as experiemento silenciosamente, sem participá-la, sem contextualizá-la do que estarei propondo na cena da qual ela tem papel fundamental. O silêncio ainda tem sido uma guerra a ser vencida, se faz necessário quebrá-lo nesses momentos. Levando em conta os comentários do Carlos quanto á abertura ao jogo, ao observar com maior sutileza os acontecimentos, as falas e relação dos personagens e tornar aquilo real, além de crer no que se estará dizendo, disponho-me a tentar. E como num ato de entrega estar ali, só ali, vivendo o instante, aberto, propenso a compartilhar energias, dar e receber estímulos e, pricipalmente, me divertir com prazer... tornar o meu personagem menos racional. O estímulo surgirá, então naturalmente, assim como se fará, também estará, naturalemente perceptível.

A peça: Concordo com a ideia de que a cada encontro um novo tipo de "alerta" ou "pista" é descoberto, desvendado. Corporalmente uma vaga ideia se desenha. Quanto á voz, um quesito em experimentação, onde nada ainda é muito certo, havendo algum tipo de intuição sobre. É só uma das etapas do processo, ainda a ser desvendado e bem explorado. O que é certo, e tive essa certeza no último ensaio é que Balbuena vive em função do futuro, dos acontecimentos projetados, fazendo deles seu objetivo maior, esquecendo-se do presente, que lhe é levemente imperceptível, e do passado que se dissolve na mesma medida em que suas projeções são formadas e reformuladas. Suas memórias são turbilhões ora de incerteza, ora de completa confusão e inconcretude. Se faz incompreensível no seu discurso, tenta por se fazer crer numa frase, mas a contradiz na seguinte. Um homem não só de passado duvidoso, mas de vida também duvidosa.