quarta-feira, 13 de abril de 2011

DIÁRIO DO ATOR - Ricardo Goulart

Peça: "Ignácio&Maria"
Autor: Nara Mansur
Ator: Ricardo Goulart
Data: 04/04/2011
Início: 14h05min

Começamos o ensaio do dia 04 de abril com uma conversa sobre algumas ideias iniciais que surgiram a partir de elementos disparadores que estamos usando para a concepção das cenas. Pri havia levado, no ensaio anterior, quatro fotos e eu, duas músicas. Não tenho aqui as fotos, mas as músicas podem ser ouvidas nos links abaixo.


Escolhi essas músicas, primeiramente, por terem forte relação com Cuba: a primeira é interpretada por uma cantora cubana e fala sobre a emoção causada pelo encontro do ser idealizado. Para mim, Maria sentiu essas mesmas coisas quando conheceu Ignácio e, talvez, a própria música até tocasse durante esse encontro; a segunda é interpretada por uma descendente de cubano. Tudo bem, a autoria da canção é brasileira, todo mundo sabe, mas retrata o desejo de alguém que recorre aos sonhos para estar perto daquele (a) que se exilou. Por não ter interesse de sair de seu país, Maria faz o mesmo. No final da música a cantora recita um poema de José Martí (político, pensador, jornalista, filósofo e poeta cubano), que diz o seguinte:
Cultivo una rosa blanca
En Junio como en Enero,
Para el amigo sincero,
Que me da su mano franca.

Y para el cruel que me arranca
El corazón con que vivo,
Cardo ni ortiga cultivo;
cultivo una rosa blanca.

Como no poema, Maria nutre por Ignácio um sentimento que ela julga ser bom, seja ele amigo ou inimigo de seu povo, esteja ele longe ou perto.

Após a conversa, foi feito um exercício de exaustão e fixação de texto, em que líamos algumas cenas alternando a velocidade e empregando um sentimento (por exemplo, raiva) de acordo com o ritmo. Esse sentimento deveria se intensificar ou diminuir com a velocidade da fala. Em seguida, a exaustão foi física num exercício em que saíamos de lados opostos até o encontro no meio da sala, onde girávamos segurando o braço um do outro, continuando posteriormente a caminhada ao outro lado da sala. A velocidade ia aumentando de acordo com o estímulo de Carlos. Como no exercício anterior, os movimentos foram se tornando automáticos à medida que a velocidade se intensificava e eu ficava cansado. Depois disso, criamos seis “fotos vivas” a partir das imagens apresentadas por Pri.

No próximo exercício deveríamos fazer cócegas no parceiro. Pri é bastante sensível a isso, então não foi difícil fazer com que ela se contorcesse ou sentisse algum tipo de desconforto nesta atividade. No meu caso, acho que Pri continuou desconfortável ou, pelo menos, inconformada porque tenho dificuldades em sentir cócegas. Terminado o momento das cócegas, deveríamos proporcionar momentos de outras formas de desconforto e até dor no parceiro. Ambos começamos bastante tímidos ou temerosos em relação ao outro, mas com a repetição do exercício a tarefa foi se tornando mais fácil. Esses exercícios, sem dúvida, tem contribuído (e muito) para uma busca e utilização da verdade na cena afastando-nos da representação. Além disso, tem influenciado também na minha relação com Pri, no que diz respeito à aproximação e confiança. Isso seria positivo em qualquer relação, mas é em especial na nossa porque nos conhecemos há pouco tempo.

Um comentário:

  1. Este ganho nas relacao dos dois é um dos grandes feitos deste processo, parabens ao ator e a atriz.

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