terça-feira, 19 de abril de 2011

DIÁRIO DO ATOR - Ricardo Goulart


Peça: "Ignacio&Maria"
Autor: Nara Mansur
Ator: Ricardo Goulart
Data: 18/04/2011
Início: 14h10min


Acho que por ser segunda-feira, cheguei um pouco indisposto e “lento” no último ensaio. Começamos caminhando pelo espaço. Aos poucos fui conseguindo me desconectar das coisas que não estavam dentro da sala e me conscientizando do meu corpo. Continuamos caminhando, mas a partir de um determinado momento deveríamos responder aos códigos que Carlos nos fornecia: quando ouvíamos o barulho de uma batida no chão, deveríamos encostar a mão no tablado; duas, deveríamos pular e três, deitar; sempre ativando a atenção e buscando o equilíbrio, tentando executar os movimentos em sincronia com o parceiro. Havia, ainda, mais dois códigos: com o barulho de uma palma deveríamos parar por completo e aumentar ou diminuir a velocidade da caminhada conforme nos era pedido.

A seguir caminhávamos até certo ponto da sala e deveríamos nos deixar guiar pelo impulso dado por alguma parte aleatória do corpo. Esse tipo de exercício sempre me parece muito chato e interminável enquanto estou racionalizando, enquanto penso qual vai ser a próxima parte a me impulsionar. Felizmente, eu consigo me entregar razoavelmente rápido e aí o exercício passa a fluir. Meu rosto escorria de suor, de uma forma como nunca tinha visto antes, e só fui perceber quando o exercício terminou.
A partir de ontem, nos próximos ensaios, vamos trabalhar nossa familiarização com o texto. No primeiro exercício, dessa fase dos ensaios, Carlos pediu que lêssemos a cena 3 e escolhêssemos cinco verbos para corporificá-los, criam um movimento de ação para cada um. Depois, a cena escolhida foi a 4 e os movimentos deveriam ser feitos no corpo do parceiro. Os dois exercícios foram feitos com repetição e música. Num dado momento, não poderíamos mais “guiar” o corpo do parceiro na execução dos movimentos, mas dar sinais para que ele sozinho fizesse os gestos escolhidos para representar os verbos retirados da cena 4. Finalmente, já havíamos “decorado” os cinco movimentos, então deveríamos intercalar com os cinco primeiros da cena 3.
Algumas músicas tocaram enquanto fazíamos os movimentos e elas interferiram na forma como eles eram executados. No meu caso, umas interferiram positivamente, outras nem tanto. Estes dois exercícios também só devem ser racionalizados o suficiente pra se memorizar os gestos, porque se não perde o sentido. Aliás, não ganha sentido. Quando parei de pensar na sequência dos gestos, me senti incorporado a eles, como se esses movimentos, por si só, guiassem meu corpo. Por fim, lemos um trecho da cena 3 e escolhemos e experimentamos movimentos que representavam cada uma dessa falas.
O último ensaio pode ser definido como o início de uma proximidade, de uma relação, com o texto, não só intelectualmente, mas fisicamente. "Ignacio y Maria" começa a ganhar corpo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário