quarta-feira, 25 de maio de 2011

DIÁRIO DO ATOR - Priscila Souza

Peça: "Ignacio&Maria"
Autor: Nara Mansur
Atriz: Priscila Souza
Data: 23/05/2011
Início: 14h30min

Cada um ficou responsável de trazer um áudio contendo as falas da cena 2 da peça, com músicas e efeitos sonoros à escolher. Cheguei atrasada, deixei para em cima da hora para fazer essa tarefa e até aprender a mexer direito no programa demorou, enfim me atrasei. Ouvimos nossos áudios. Adorei a versão do Ricardo, especialmente os sons do coração e o da máquina de medir batimentos cardíacos. Eu fiz três versões, mas menores. Os sons principais que utilizei foram: barulho de máquina de escrever, passos e som de psicose. 

Depois, repetimos a partitura dos movimentos criados no ensaio anterior. Repetimos, repetimos e repetimos e algo não se “encaixou”. Eu me senti estranha, desconfortável e desajeitada em fazer certos movimentos. Era uma improvisação total e nunca repetíamos igual a ação anterior. Até que Carlos propôs uma outra alternativa, cada um sentou em um cubo (feito de madeira que estavam disponíveis na sala de ensaio) virado para um lado da platéia (imaginamos que o publico sentaria em dois lados) e o inicio da cena 2 falaríamos como se estivéssemos em um tribunal, ou seja cada um defendendo a sua versão da história, porque na minha opinião nesta cena Inácio e Maria não se dialogam, mas cada um está no seu monólogo. Brinquei com as palavras: falar de trás pra frente, cantar, gaguejar, berrar, sussurrar, repetir e etc. Adorei essa experiência! Gosto de brincar com as palavras, fazê-las se tornarem estranhas e nojentas de serem ouvidas. Enquanto eu falava Ricardo se movimentava e vice e versa. Esse movimento era imediato e frenético ao som das palavras ditas, como se fosse uma descarga elétrica no ouvinte. Os movimentos foram evoluindo pouco a pouco, conforme adquiri intimidade com o cubo. Na primeira tentativa mexi mais o rosto e fiz caretas. Adorei mexer a língua. Em seguida usei mais o corpo, percebi que tenho iniciativa de movimentar as seguintes partes: cabeça, pernas, braços e mãos. Não necessariamente ao mesmo tempo. Me senti mais confortável, fazendo essas ações do que as criadas no ensaio anterior, porque Carlos foi mais presente como diretor. 

A intenção não é ser um trabalho colaborativo? Será que eu como atriz estou acomodada? Por que é tão difícil criar?

Na última repetição desse trabalho eu e Ricardo ficamos um de frente para o outro, não perto um do outro, mas eu conseguia vê-lo pela visão periférica. Essa sensação de ser observada por alguém que eu consiga ver, me gerou um constrangimento. Ser patética com alguém olhando e eu enxergar esta pessoa me afeta, me causa vergonha. Eu gosto do monstruoso, do nojento e do deplorável em cena. Aquilo que todos nós escondemos, camuflamos e mascaramos. Gosto de brincar com isso, mas ao mesmo tempo como perder esta inibição?

Quero dizer, falar o texto e me mexer naturalmente como falaria no dia-a-dia é fácil, agora modificar e tornar algo performático isso é difícil.

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