quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Canción de cuna..."

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Díaz
Elenco: Anna Lia e Tobias Nunnes
Data: 02/12/2010
Início: 09h00min

Como parte do aquecimento pedi aos atores que batessem texto, com a peça em mãos. Isso foi feito com o objetivo de fazê-los trazer imagens da peça, ritmos, corpos, idéias, bem como, dar um pouco de segurança no texto também.

De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

Depois conversamos um pouco sobre a importância do jogo e a relação secundária que se estabeleceria com o texto enquanto pretexto do jogo e, não enquanto elemento primordial da peça. Depois discutimos um pouco sobre a necessidade do ensaio, com o intuito de reforçar aqueles 4 tópicos discutidos anteriormente, os quais se o ator levar a sério, terá um ensaio no mínimo rentoso: o "eu", o "espaço", a "peça" e o "nós".
Reparei que durante as primeiras passadas "livres" da peça eles se posicionavam geralmente nos cantos da sala. Posso estar errado, mas leio nisso uma insegurança ainda, o procurar onde se apoiar, e por outro lado, a falta de atitude: o palco é meu. Reflitamos.
De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista
Me pergunto hoje, vendo-os se eles estão certos ao querem criar o corpo do personagem. Minha dúvida se divide em duas vertentes, primeiro, se sim, se é necessário, já não teriam eles o corpo do personagem? Afinal o ator sempre pensa que vai criar um corpo novo, quando não percebe que na realidade o que vai fazer é, no máximo, acrescentar poucas características experimentais a mais no seu próprio corpo. E a outra questão é: esse processo não deveria vir com maior intensidade (apesar de já iniciar paralelamente) quando o texto estiver completamente incorporado. Pois, quem dá os maiores indícios do corpo do personagem que não o texto, senão, qual o sentido da palavra incorporar. Por isso, Rosaura e Baubuena já tem um corpo inicial que são os corpos respectivos de Anna Lia e Tobias, tanto mais corpo ganharão, tanto mais trejeitos, características adquirirão, quanto mais os dois atores incorporarem (colocarem no corpo) o texto.

Bem, voltando ao assunto anterior, conversamos sobre a importância do aquecimento como start do jogo, e da importância da peça ser encarada como jogo/play/jou e não como algo sério e sagrado. E da necessidade de se brincar para, no estado em que o jogo nos deixa, colhermos as imagens que espontaneamente brotarão da nossa criatividade para explorarmos em cena.
De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista
Depois desse bate papo, fizemos um aquecimento corporal, um PLASTIQUE, onde eles foram convidados a exercitar o material intelectual fruto do nosso bate-papo anterior. Sugeri que eles usassem todo seu material interior e exterior como fonte de criação: se estivessem angustiados, aflitos, afoitos, nervosos, preocupados, alegres, eufóricos, etc, que canalizassem esse material para deixá-los em estado criador, por outro lado, que através do plastique, estudassem o próprio corpo e buscassem estar conscientes das imagens possíveis que eles poderiam gerar a partir desse exercício.
Depois eles repassaram as cenas iniciais mas ainda não conseguiram transformar a excelente relação que tem fora do palco numa relação de múltiplos estímulos dentro do palco, para poderem criar uma relação que resultará num jogo cênico.
Conversamos também entre deixarem-se levar mais pelo sensorial (o pai do prazer) do que pelo intelectual (o pai do julgamento), para poder sentirem-se livres para brincar e usufruir do estado que disso decorre.
Uma breve avaliação: ambos são o elenco que todo diretor pediu a Deus, esforçados, dedicados, disciplinados e dispostos. O que falta? Acreditarem em si, estimularem-se mais, jogarem mais, brincarem mais, e pararem de se julgar (leia-se, auto-dirigir, ou dirigir por mim ou dirigirem-se mutuamente).

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