quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Los pájaros..."

Peça: "Os pássaros se vão com a morte"
Autor: Edílio Peña
Elenco: Vera Ferreira
Data: 03/12/2010
Início: 9h00min

Hoje estamos ensaiando na sala 401.
Por acidente a Bárbara não veio (despertador programado para o dia errado).
Trabalhamos apenas eu e a Vera.
O trabalho a dois foi excepcional, haja vista que tive tempo para exercitar e discutir uma série de coisas com ela, o que rendeu ótimos resultados.
O ensaio de hoje não teve muitos intercessores, foi mais dedicado à trabalharmos algumas cenas complexas.
Bom, vamos à descrição do ocorrido.
Repeti com a Vera o PLASTIQUE, isolamento de movimentos, no que a Vera realizou muito rapido. Em seguida dei à ela alguns minutos, creio que 20, para ela criar improvisações sobre cenas que ela escolhece. Assim ela fez.
Pedi que ela continuasse a improvisar olhando para a objetiva da fotográfica como se fossem os olhos da Bárbara, e ela não sabia que estava gravando. Ela criou uma boa relação com este objeto. Queria dar-lhes o ponto de vista da parceira de cena, para verem como está esse relacionamento.
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Percebeu que a Verinha perdia o foco dos olhos da Bárbara as vezes? Ou seja, em vez de tratar a câmera como os olhos da parceira de cena, ela as vezes simulava essa presença em outro lugar.

Em seguida pedi para a Vera repetir o exercício com outras cenas. E a escolhida foi a complexa cena da incorporação. O objetivo era tirar do corpo qualquer premeditação sobre o texto, e deixar aparecer algo diferente, não necessariamente bom, apenas diferente. Então, para estimular a espontaneidade e dar total liberdade de movimentação corporal à atriz, fizemos um trabalho de percepção e relaxamento do corpo que chegou nesse resultado, abaixo.

No ensaio de hoje a Vera me ensinou algo muito importante que, assim como o aquecimento, a repetição ajuda a quebrar a casca, as máscaras, as resistências psicológicas do ator, até o ponto que ele chega no esgotamento. E esgotamento aqui não é esvaziamento de idéias, é esvaziamento de resistências e premeditações intelectualizantes ou psicologizantes da cena, que acabam "matando" o jogo. Com a repetição chegamos num esgotamento inconsciente, que por sua vez, levou à sensação de liberdade para criar o que "desse na telha", e foi o que houve. Não é o esgotamento que será levado para a cena, afinal não há tempo para antes da apresentação fazer as atrizes repetirem a peça ou determinadas cenas à exaustão. O que será levado para a cena é o resultado desse esgotamento, a criação que vem espontânea e livremente. Esse estado de liberdade das próprias resistências psicológicas. Concluo que, entre várias outras coisas já expostas aqui, o aquecimento ajuda a eliminar resistências físicas (alongando e dando consciência do estado dos músculos) bem com eliminar resistências emocionais/psicológicas através da repetição exaustiva de pequenas cenas, preferencialmente que sejam as mais difíceis de fazer. E porque são difíceis? Justamente porque são aquelas que os atores apresentam maiores resistências à fazer. Parece lógico não é?...

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