segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DIÁRIO DO ATOR - Tobias Nunnes

Peça: "Canção de Ninar para um Anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Ator: Tobias Nunnes
Data: 02/12/2010
Personagem: Balbuena

De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

Diário atípico, sempre esperava as considerações e postagem do diário de direção para por fim escrever o meu com as pecepções, sensações e possíveis aprendizados. Não que ache que seja algo negativo, a não publicação do diário do diretor, pelo contrário, acredito que possa relatar minhas observações sem necessariamente precisar estar em sincronia ou saber dos apontamentos que a direção tem a fazer do último ensaio, mesmo que de leve já os saiba. Enfim... é uma novidade, escrever o primeiro diário sem antes ter tido um "feedback escrito", por assim dizer, onde pudesse contrargumentar. O que, também nem sempre procede.

Local de Ensaio: Sala branca, menor do que os locais até então explorados, deu, inicialmente, outro tipo de sensação, a princípio até mais aconchegante e intimista, mas as salas pretas ainda me são mais simpáticas. Embora não dê muito crédito á lugares, tento me adaptar e descobrir se há algo além de casualidade ou razão para estar presente neles. Observo, e considero que a escolha foi favorável, estando ainda num processo inicial de descoberta, lugares mais intimistas tendem a colaborar para com desempenho de algo. O tamanho da sala não impediu que grandes movimentos fossem explorados, tanto quanto os personagens e suas personalidades. É como se o local onde estavámos não impedisse por completo a experiência de algo grande. Soa até como uma espécie de desafio.

Sobre mim mesmo: De fato, ainda encontro certos bloqueios e uma corrente que, de certa forma me aprisiona ao texto, não permitindo que meu corpo relaxe e esteja totalemente aberto e disponível para o jogo. De acordo com observações em outros trabalhos, não tão grandes, trabalhosos e a longo prazo como este, notei que sabendo o texto em um todo consigo ousar mais, me aventurar mais, pois não corro o risco de misturar texto a experiência de um jogo, mas sim estar apto somente a misturar o jogo com outras propostas, sejam de corpo ou de voz, mas o texto estará lá intacto. O que tem sido um desafio nos últimos ensaios, me adequar ás propostas, ao exercício, que sei de favorecerão a criação do personagem e ainda assim recitar o texto dentro uma proposta do que poderia vir a ser algumas das cenas. É uma mistura muito curiosa que vem se estabelecendo. Os pontos de tensão sempre estão presentes, mesmo que de início. O exercício de "consciência-exploração", isolamento de partes do corpo, me deixou muito inquieto e ansioso, mas ao fim quando a permissão de mover e explorar todo e qualquer tipo de movimento sob regência de toda e qualquer articulação que se mostrasse á vontade para se movimentar, me animou muito, revigorou e estimulou corporalmente a querer descobrir mais sobre a possibilidade das sensações contidas nos movimentos e expressões. Por mais que isso possa parecer um estímulo individual. Quanto aos estímulos a serem dados e retribuidos a Anna Lia, certamente devem ser trabalhados e descobertos, já que falta de sinergia e envolvimento não há. Mas por ela estar, de certa forma mais adiantada, textualmente, talvez corporalmente, faz com que me sinta na função de me igualar , para que assim o processo possa seguir de uma forma mais equilibrada. Por mais que meu tempo seja diferente do dela, há como tornar nivelado e mais produtivo, com subsídios necessários para acelerarmos com qualidade, obtendo promissores resultados. Anna Lia tem certa razão nos seus comentários, exceto quanto a frieza, que pode estar sendo confundida com introspecção, esta não sendo revertida em estímulos a ela. Já que quando ocorre, ideias brotam, as experiemento silenciosamente, sem participá-la, sem contextualizá-la do que estarei propondo na cena da qual ela tem papel fundamental. O silêncio ainda tem sido uma guerra a ser vencida, se faz necessário quebrá-lo nesses momentos. Levando em conta os comentários do Carlos quanto á abertura ao jogo, ao observar com maior sutileza os acontecimentos, as falas e relação dos personagens e tornar aquilo real, além de crer no que se estará dizendo, disponho-me a tentar. E como num ato de entrega estar ali, só ali, vivendo o instante, aberto, propenso a compartilhar energias, dar e receber estímulos e, pricipalmente, me divertir com prazer... tornar o meu personagem menos racional. O estímulo surgirá, então naturalmente, assim como se fará, também estará, naturalemente perceptível.

A peça: Concordo com a ideia de que a cada encontro um novo tipo de "alerta" ou "pista" é descoberto, desvendado. Corporalmente uma vaga ideia se desenha. Quanto á voz, um quesito em experimentação, onde nada ainda é muito certo, havendo algum tipo de intuição sobre. É só uma das etapas do processo, ainda a ser desvendado e bem explorado. O que é certo, e tive essa certeza no último ensaio é que Balbuena vive em função do futuro, dos acontecimentos projetados, fazendo deles seu objetivo maior, esquecendo-se do presente, que lhe é levemente imperceptível, e do passado que se dissolve na mesma medida em que suas projeções são formadas e reformuladas. Suas memórias são turbilhões ora de incerteza, ora de completa confusão e inconcretude. Se faz incompreensível no seu discurso, tenta por se fazer crer numa frase, mas a contradiz na seguinte. Um homem não só de passado duvidoso, mas de vida também duvidosa.

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