domingo, 12 de dezembro de 2010

DIÁRIO DE DIREÇÃO - "Canción de cuna..."

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Díaz
Elenco: Anna Lia e Tobias Nunnes
Data: 09/12/2010
Início: 09h00min

Hoje, como parte da estratégia de deixar Tobias e Anna Lia mais a vontade (entre si e comigo), os levei ao planetário da UFSC.  Essa idéia parte do pressuposto que num ambiente lúdico, de jogo e informal, eles resgatem e tragam para o ensaio a maravilhosa relação que têm entre si, e que não me vejam como aquele que os julga, mas aquele que os acompanha. Afinal, preciso ser incluído no jogo deles, isto é, eles devem me ver como outro jogador nessa relação que se estabelece, para que os ensaios não se tornem torturantes momentos de avaliações feitas por mim.

Vocês podem perceber nessa foto, que a experiência no planetário surtiu efeito, ambos se soltaram e brincaram, isto é, mantiveram a relação que já possuem. Tivemos a companhia de um instrutor próprio do parque que me pareceu um elemento estranho ao jogo. Evidentemente que isso não é uma crítica ao trabalho do jovem que foi muito atencioso e gentil conosco, me refiro apenas à sua interferência no jogo que constantemente se estabelece entre nós do grupo.


Vejam nessa outra imagem, o retrato do que as relações entre os objetos e sua utilidade dentro de um jogo lúdico provoca nos atores. Esses objetos podem servir como intercessores, isto é, provocadores de solução criativa tão somente pelo estado de relaxamento ou bem estar que provocam nos atores. Nos dois, o efeito desse provocador/intercessor não foi além de um estado de abertura para o ensaio. Quero dizer que após o planetário os dois estavam mais abertos ao jogo cênico, mas não percebi de imediato um resultado criativo expressivo. Isso não significa que esse resultado não virá, afinal, ainda não tenho certeza do "quanto" tempo dura um processo intercessivo, ou seja, ainda não sei quando um intercessor pode fazer efeito, se apenas imediatamente ou pode ter resultados futuros. 


Após o parque, onde, diga-se de passagem, os atores não se sentiram confortáveis o suficiente para puxar qualquer trecho do texto da peça, fomos para um ambiente convencionalmente teatral, o "Palquinho do Bosque".
Alí fizemos um exercício que tem por objetivo de fixar o texto na memória (especialmente do Tobias). Trata-se de repetição do texto de forma cíclica, é o exercício de "Looping de cenas". Nesse exercício os atores deve "bater" texto o mais rápido possível, de maneira infinita, isto é, chegam no final, voltam pro começo (seja de uma cena específica, de um trecho escolhido ou do máximo de cenas possíveis) e a cada reinício de texto, a velocidade necessariamente deveria aumentar. Assim fizemos, percebi de começo e vocês podem confirmar na foto, que ambos começaram a caminhar e movimentar-se com a velocidade proporcional, o que resultou numa dificuldade de concentração do Tobias que fazia com que o exercício fosse se tornando um suplício. Até que o alertei de que pedi apenas que o exercício fosse direcionado para o texto, ou seja, se ele iria fazer o looping de cenas sentado, deitado, de cabeça pra baixo, isso não era o foco. Então ele sentou-se e deixou claro apenas que tentou entrar no jogo que a Anna Lia havia proposto, pois foi ela que começou a mover-se. Por um lado, percebemos todos, também, a necessidade de se respeitar o limites e as necessidades do outro para que o jogo seja verdadeiro.

Depois que a Anna Lia entendeu que a necessidade do Tobias de sentar-se não tinha relação com uma psicologização do texto, mas com uma necessidae natural de "colocá-lo na mente para posteriormente, conforme adquirisse segurança ele o pusesse no corpo", então o exercício passou a fluir.

Por fim, conversamos sobre a necessidade de trazerem para a cena a excelente relação que possuem e estimularem sem com isso lançar expectativas ou ordens implícitas, para que a relação não seja "forçada" o que a torna necessariamente falsa.

No dia seguinte foi feito outro ensaio... e esse foi ESTUPENDO! Falarei dele no próximo post.

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