quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

DIÁRIO DO ATOR - Tobias Nunnes

Peça: "Canção de ninar para um anarquista"
Autor: Jorge Diaz
Ator: Tobias Nunnes
Data: 13/12/2010



De Ensaio - Canção de ninar para um anarquista

A peça é uma grande queda, o texto o vento que sopra rapidamente antes de se chegar ao chão. A transição entre o abrir do abismo, o jogar-se, a queda e o encontro com chão são o despertar daquilo que a enriquece.

Novamente a presença do texto me aprisionou, a tentativa de um novo trecho foi frustrada, e acredito que tanto Carlos como Anna Lia esperavam mais de mim nesse aspecto. Mas não classifico como negativo o ensaio, a velocidade proposta as vezes é um problema, tanto de recordar o que já está decorado e dizê-lo de forma veloz e sincronizá-los com movimentos, futuras marcações e máscaras faciais, que destaco tentativas de Anna Lia nesse ensaio, como benéficas e colaborativas para com meu desempenho e construção da relação cênica com ela, entre nossos personagens.

A repetição intensa de trechos jé então explorados deu nova margem de interpretação para a cena e me fez ver seus sutis detalhes,(Carlos colaborou muito com isso) detalhes a serem muito mais enriquecidos e trabalhados, por mais que minha ansiedade, assim como a de Anna Lia, de querer saber mais, fazer mais, além da curiosidade por querer expressá-las. Acredito que pontuações nítidas devem ser levadas em conta nesses trechos que por vezes passam batidos em função da existência de um texto ainda virgem, sedendo por leitura e carga interpretativa. A reptição modificada inspirou-me a criar mais, a reformular o que já temos e viemos construindo, dando consistência e maior precisão.

A velocidade no dizer o texto é relativa, como ressaltou Anna Lia, não é tão alta quanto deveria, mas favoreceu experimentações e descobertas, principlamente no quesito improvisação, não textual, mas motora. E daqui surge minha inspiração "locomotiva". A ideia de fazer a leitura com texto em mãos, por duas vezes me acalma e dá maior segurança/relaxamento (parte do meu aquecimento eu diria), justamente por não ter nem a presença nem a voz de Anna Lia em minhas leituras individuais, já percebi que ela auxilia no meu exercício de memorização. Esperava que fosse assim feito duas leituras, retirava-se o texto e seguíamos com aquilo já em mente, mas na segunda leitura, o diretor já fez interferências, muito ricas por sinal, mas ali já se seguia o processo posterior á leitura, já com movimentação e expressão com total desprendimento do texto, isso me confundiu, fez com que acelerasse, não só o dizer do texto mas também meu tempo, fazendo com que Anna Lia chamasse minha atenção, jogasse texto longe e dizer para acreditar mais em mim. Digo, não se trata de não acreditar em mim, mas é como se o texto transmitisse ou estabelecesse comigo, minutos antes, uma troca de energia, aquecimento mesmo, como já relatei.
Porém, a confusão por mim assim interpretada, de já na segunda leitura engatar na encenação, me fez perceber que não posso ter o texto sempre á minha disposição e que pode sim ser muito mais amplo, se ele estiver longe de meu alcance, do contrário é sempre uma hipnose, olhos fixos nele e possibilidade apenas de explorar a voz, corpo e face/máscara ficam para depois. E voz nem sempre é a prioridade.
Deve ser meu fascínio pelas letras, como disse Anna Lia, um Bibliotecário em cena... deixarei isso de lado que é só um mínimo detalhe. (rs)

Amada minha... estou disposto a seguir brincando e ser feliz no mundo cênico contigo... mas preciso conhecer o terreno por completo para depois explorá-lo, abusá-lo de todo... me ajuda nas descobertas? Desbravemos caminhos? Estou disposto a me aventurar, segure minha mão e abriremos portas ou encontraremos abismos para nos jogar.

A inspiração "motora" já fruto do ensaio anterior (o melhor ensaio), ganhou força ao final desse, me senti muito bem fazendo, mesmo com energia baixa após o término. Quero poder tentar sugerir mais nas brechas até então inperceptíveis das cenas já trabalhadas e dedicação completa rumo ao que virgem ainda permanece... permanece assim só por enquanto. Vamos desfolhá-lo Sr. Fascínio.

All in good time.
"Ver tudo é não ver nada
Perder a madrugada enrolando bilhetes á esperar o correio abrir suas portas.
Nas nuvens vejo desfilar cores e formas feitas para sonhar
Aguardo.
Caixas sentimentais para guardar trecos e tudo o que sobre ti ainda não sei.
O meu coração escuro, dita palavras contemplando o sol que nasce
Junto ao tempo
Junto a mim
Junto a nós.
Extraio da mais fina riqueza natural
O potencial porcelanado, branco e pincelado
Sobre tudo o que escrevo e a ti destino.
Arte pintada á mão.
Extração benéfica
Fortificada".

Theofilos Garr

Nenhum comentário:

Postar um comentário